sábado, 18 de dezembro de 2010

O urubu e o beija-flor


Triste o pássaro planava
Negro nas correntes quentes de ar.
Só quando sentia descia o cheiro
Da carniça, para carniçar.

As asas coloridas eufórico batia
O beijoqueiro no meio das flores.
Alegre seguia a beijar
As damas de todas as cores.

Quando o urubu chegava perto
Todos os homens o espantavam.
Quando chegava o beija-flor
Os mesmos se abestalhavam.

E o primeiro seguia carente
Por não ter quem dele gostasse.
O outro depressa partia
Logo que aparecia gente.

Um dia o acaso os juntou
E o urubu cantou suas dores:
“Querem que eu seja você,
Alegre e cheio de cores,
Ninguém me quer como sou.”

O beija-flor inteligente
Não se conteve, retrucou:
“Cheiro os melhores perfumes,
Só vivo no meio de flores,
Mas não sou melhor que você
Que cheira os mais podres estrumes.”

E voou o pássaro maior,
Foi-se embora contente.

Aprendeu que ser diferente,
Não é ser melhor ou pior,
Mas ser apenas diferente.


(Lalo Oliveira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário