E você me deu um beijo gelado na minha testa confusa, entrou na mata escura e me deixou gritando seu nome.
Tudo estava mesmo muito estranho, pouco à pouco tudo foi mudando tão depressa que me assustou. E numa tarde depois da minha volta do colégio eu o vejo perto no jardim da minha casa, como ele sempre me esperava, e olhou-me com uma cara de preocupação, que eu ignorei depois do beijo que ele me deu.
Depois de caminharmos para uma pequena floresta que se localiza perto da minha casa, paramos sem nenhuma explicação à primeira vista.
Finalmente eu falei, com mais coragem que o esperado:
- Está bem, vamos conversar.
Ele me olhava com um rosto sem expressão, e me deixou ainda mais confusa.
- Eu estou indo embora. - Falou com um tom normal para as palavras frias ditas por ele.
- O que?! Como assim?! Por que?!
- Sem perguntas.
Ainda sem entender, olho para seus olhos profundos, que naquele momento estava escuros roubando a cor da noite que nos cercava, e com um olhar sem nada que se pudesse aproveitar e retrucar.
- Bem, as coisas mudam. - Eu falo com uma coisa me prendendo na garganta.
- Sabe, depois dos últimos dias algumas coisas me vieram repensar em tudo. De certa forma eu amei você, mas então veio-me a minha vida e minhas condições de tudo nunca pode dar certo para nós dois.
- Não lamente por nada!! - Sem respirar eu ainda conseguia falar aquelas palavras.
- Você não é boa o bastante para mim - ele contornou sua palavras anteriores, então eu não tinha
como argumentar. Eu sabia muito bem que não era boa pra ele.
Eu abri minha boca pra dizer alguma coisa, e então a fechei de novo.
Ele esperou pacientemente, seu rosto totalmente limpo de emoção. Eu tentei de novo.
- Se... isso é o que você quer.
Ele acenou com a cabeça uma vez.
Meu corpo inteiro ficou entorpecido. Eu não conseguia sentir nada abaixo do pescoço.
- Para não doer tanto mais em você - ele completou - Eu prometo que essa será a última
vez que você vai me ver. Eu não vou voltar. Eu não vou te envolver em nada assim novamente.
Você pode seguir a sua vida sem mais nenhuma interferência da minha parte. Será como se eu
nem existisse.
Meus joelhos devem ter começado a tremer, porque de repente as árvores estavam
crescendo. Eu podia ouvir o sangue pulsando mais rápido que o normal atrás das minhas orelhas.
A voz dele soou muito distante.
- Adeus - ele disse na mesma voz calma, pacífica.
- Espere - eu sufoquei depois das palavras, me inclinando pra ele, esperando que minhas
pernas mortas pudessem me levar em frente.
Eu pensei que ele estava se inclinando pra mim também. Mas as mãos geladas dele
agarraram minha cintura e se colaram nos meus lados. Ele se abaixou, e colou seus lábios muito
rapidamente na minha testa pelo mais breve segundo.
Meus olhos se fecharam.
- Cuide-se - ele respirou, frio contra a minha pele.
Houve uma leve brisa sobrenatural. Meus olhos se abriram. As folhas das árvores menores
tremiam com o vento gentil da sua passagem.
Ele havia ido embora.
Com as pernas tremendo, ignorando o fato de que minhas ações eram inúteis, eu o seguí
pela floresta. As evidências dos seus passos desapareceram instantaneamente.
Não haviam pegadas, as folhas estavam paradas de novo, mas eu seguí em frente sem pensar. Eu
não conseguia pensar em mais nada. Se eu parasse de procurar por ele, estaria acabado.
Eu caminhei e caminhei. O tempo não fazia sentido enquanto eu me empurrava pelo solo
grosso. Eram horas passando, mas também só segundos. Talvez parecesse que o tempo havia
parado porque não importava o quanto eu continuasse seguindo em frente a floresta sempre
parecia igual. Eu comecei a me preocupar em estar viajando em círculos, um círculo bem pequeno
na verdade, mas eu continuava em frente.
Eu tropeçava muito, e, enquanto ia ficando mais e mais escuro, eu comecei a cair
frequentemente também.
Finalmente, eu tropecei em alguma coisa - estava escuro agora, eu não tinha idéia do que
segurou meu pé - e eu fiquei no chão. Eu rolei de lado, pra poder respirar, e me curvei no solo
molhado.
Enquanto eu ficava lá, eu tinha a impressão de que havia se passado mais tempo do que eu
podia imaginar. Eu nem podia lembrar a quanto tempo a noite havia caído. Era sempre assim tão
escuro aqui durante a noite? Certamente, como era a regra, alguns raios de lua atravessavam as
nuvens, através das rachaduras nas copas das árvores, e vinha encontrar o chão.
Essa noite não. O céu estava completamente escuro. Talvez não houvesse luz da lua hoje -
um eclipse lunar, uma lua nova.
Uma lua nova.
A lua nova que sempre me ajudava, agora, está aqui comigo, com alguns pingos de chuva em que se mistura com as minhas lágrimas da dor da partida dele para sempre de minha vida.
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